Em 1959, nas gélidas e implacáveis Montanhas Urais, uma expedição de esquiadores soviéticos embarcou em uma jornada que se tornaria um dos mistérios mais perturbadores e duradouros do século XX. O que realmente aconteceu com o grupo liderado por Igor Dyatlov no que hoje é conhecido como Passo Dyatlov desafia a lógica e as explicações convencionais, deixando para trás um rastro de terror, perguntas sem respostas e uma série de detalhes bizarros que continuam a intrigar investigadores e entusiastas do sobrenatural.
A Expedição Destinada e a Última Parada
O grupo, composto por dez experientes esquiadores e trekkers — a maioria estudantes e graduados do Instituto Politécnico de Ural, com idades entre 20 e 38 anos —, partiu em 27 de janeiro de 1959. O objetivo era alcançar o Monte Otorten, uma montanha significativamente desafiadora. No entanto, um dos membros, Yuri Yudin, adoeceu e foi forçado a retornar no início da jornada, salvando-se de um destino terrível. Os nove restantes seguiram em frente: Igor Dyatlov (o líder), Zinaida Kolmogorova, Lyudmila Dubinina, Alexander Kolevatov, Rustem Slobodin, Yuri Krivonischenko, Yuri Doroshenko, Nikolai Thibeaux-Brignolles e Semyon Zolotarev.As últimas fotos e entradas de diário do grupo revelam um espírito aventureiro, apesar do rigor do inverno siberiano. Em 1º de fevereiro, após desviar da rota devido a uma forte nevasca e visibilidade limitada, eles montaram seu acampamento na encosta da Kholat Syakhl, conhecida pelos nativos Mansi como a "Montanha da Morte" – um nome que se mostraria sinistramente profético. A tenda grande, projetada para os nove, foi erguida em uma encosta exposta, sem barreiras naturais, uma decisão que, à primeira vista, parecia apenas inconveniente, mas que seria crucial para o desenrolar da tragédia.
A Descoberta Aterradora: Um Cenário de Pânico Inexplicável
Quando o grupo não retornou na data prevista, uma equipe de
busca foi enviada. Em 26 de fevereiro, a cena do acampamento foi descoberta, e
o que viram chocou até mesmo os mais experientes socorristas. A tenda principal
estava rasgada de dentro para fora em vários pontos, indicando uma fuga
apressada e desesperada, como se algo os tivesse forçado a sair violentamente.
A maior parte de seus equipamentos, comida e roupas extras estavam intactos
dentro da tenda.
Ao redor da tenda, havia nove pares de pegadas, visíveis na neve profunda, feitas por pessoas com meias, uma única bota ou até descalças. Essas pegadas se afastavam da tenda em direção à floresta próxima, a cerca de 1,5 km de distância, apesar das temperaturas que chegavam a -30°C. A ausência de sinais de luta ou de pegadas de outras pessoas ou animais no local apenas aprofundou o mistério.
Os Corpos: Pistas Chocantes e Ferimentos Bizarros
Os primeiros cinco corpos foram encontrados em diferentes
locais nos dias seguintes, espalhados pela encosta. Dois deles, Yuri
Krivonischenko e Yuri Doroshenko, estavam despidos e quase congelados sob um
pinheiro na orla da floresta, com sinais de tentativa de fazer uma fogueira.
Ambos apresentavam queimaduras nas mãos e pés, e pequenos ferimentos. Outros
três — Igor Dyatlov, Zinaida Kolmogorova e Rustem Slobodin — foram encontrados
congelados em posições que sugeriam que estavam tentando retornar à tenda, a
centenas de metros dela. Slobodin tinha uma fratura fina no crânio, que
inicialmente não foi considerada fatal.
A busca pelos quatro esquiadores restantes durou mais de dois meses devido à neve pesada. Eles foram finalmente encontrados em maio, sob uma camada de neve de quatro metros em uma ravina a 75 metros da fogueira do pinheiro. Os detalhes desses corpos aprofundaram ainda mais o mistério, sendo os mais perturbadores:
Lyudmila Dubinina e Semyon Zolotarev apresentavam fraturas maciças e devastadoras no peito, com múltiplas costelas quebradas. As lesões eram tão graves que um especialista forense as comparou aos ferimentos de um acidente de carro de alta velocidade, ou como se tivessem sido atingidos por uma onda de pressão. No entanto, não havia nenhum sinal externo de trauma nos corpos, como contusões ou escoriações.
Nikolai Thibeaux-Brignolles tinha uma fratura grave no
crânio.
O mais bizarro: Lyudmila Dubinina teve sua língua, olhos e
parte dos lábios e do tecido facial removidos. Zolotarev também apresentava
falta de alguns dentes e ferimentos no rosto.
Análises posteriores revelaram vestígios de radiação alfa
nas roupas de alguns dos mortos, embora em níveis baixos e controversos.
O Inquérito e a Conclusão Incompreensível
A investigação soviética inicial, liderada pelo promotor Lev
Ivanov, rapidamente concluiu que a causa das mortes foi uma "força natural
irresistível" (стихийная сила). O caso foi abruptamente encerrado em maio
de 1959, e os arquivos foram classificados como secretos por mais de 30 anos.
Essa rapidez e o sigilo apenas alimentaram décadas de especulação, ceticismo e
teorias da conspiração sobre o que realmente aconteceu. A falta de uma
explicação lógica e satisfatória para os ferimentos, a fuga em pânico e a desnudação
dos corpos deixou um vácuo preenchido por inúmeras hipóteses.
Teorias: Do Pouso Forçado à Vingança Mansi
As circunstâncias bizarras e a ausência de uma explicação
oficial convincente deram origem a uma miríade de teorias para o Incidente do
Passo Dyatlov:
Avalanche de Placa (Slab Avalanche): Esta é atualmente a
teoria mais amplamente aceita por estudos científicos recentes. Pesquisadores
suíços, com base em modelos de neve e geotecnia, argumentam que uma rara
avalanche de placa, disparada pelo corte da neve para montar a tenda em uma
inclinação oculta e pelo peso da neve acumulada durante a noite, pode ter
atingido a tenda enquanto os esquiadores dormiam. Essa avalanche seria lenta,
mas com força suficiente para desorientar e ferir o grupo. A teoria explica a
necessidade de cortar a tenda para escapar, a fuga com pouca roupa (explicada
pelo fenômeno de "desnudamento paradoxal" em hipotermia severa, onde
as vítimas sentem calor e tiram suas roupas), e até mesmo os ferimentos
internos, que seriam consistentes com o impacto da neve compactada ou quedas
violentas em terreno irregular durante a fuga em pânico na escuridão e no frio.
A localização dos corpos, com alguns mais perto da tenda e outros mais longe,
também poderia ser justificada por uma fuga desesperada em direções diferentes.
Envolvimento Militar/Testes Secretos: Dada a era da Guerra
Fria e a classificação do caso, essa teoria ganhou muita força. Relatos de
luzes laranja "estranhas" no céu na noite do incidente, vistas por
outro grupo de esquiadores a 50 km de distância, e a presença de radiação nas
roupas de algumas vítimas, levantaram suspeitas de testes militares com armas
desconhecidas ou mísseis. A ideia é que o grupo pode ter sido exposto a uma explosão
de ar (não deixando crateras visíveis), uma arma sonora ou química, que os
forçou a fugir. O sigilo da investigação e a relutância soviética em liberar
informações apenas alimentaram essas especulações.
Infrassom: Uma teoria mais científica, mas igualmente
intrigante, sugere que ventos fortes e específicos na região poderiam ter
gerado infrassom — frequências de som abaixo da audição humana, mas capazes de
induzir pânico, náuseas, tontura e uma sensação de terror irracional. Essa
desorientação e medo extremo poderiam ter levado o grupo a fugir da tenda em um
estado de quase psicose, sem perceber o perigo do frio.
Ataque de Nativos Mansi: Inicialmente considerada, essa
teoria foi rapidamente refutada pela investigação, que não encontrou sinais de
outros intrusos e concluiu que os ferimentos eram de natureza não-humana. Além
disso, os Mansi eram geralmente pacíficos. No entanto, a ideia de que o grupo
teria invadido um território sagrado ou sido atacado por algum motivo ressurgiu
em algumas especulações.
Animais Selvagens ou Yeti: A ideia de um ataque de animais
selvagens (como ursos ou lobos) é frequentemente descartada, pois não haveria
explicação para os cortes na tenda feitos de dentro para fora, a fuga sem
equipamentos de proteção, ou os tipos específicos de ferimentos internos. A
teoria do Yeti ou de uma criatura desconhecida, embora popular em algumas
lendas, não possui base factual.
Legado e O Mistério Persistente
O Incidente do Passo Dyatlov continua a ser um poço sem
fundo de mistério e fascínio. A cada nova investigação, documentário ou estudo
científico, mais detalhes emergem, mas a imagem completa permanece elusiva. A
falta de um consenso definitivo sobre o que realmente aconteceu garante que a
tragédia dos nove esquiadores do Passo Dyatlov continuará sendo um dos casos
mais sinistros, inexplicáveis e perturbadores da história, um lembrete sombrio
da fragilidade humana diante de forças desconhecidas, sejam elas naturais,
militares ou algo mais.